José Roberto de Castro Neves, advogado, Doutor em Direito Civil e Mestre pela Universidade de Cambridge, sensibilizou-me com este livro admirável: A invenção do Direito. O texto emerge do fascínio da tragédia grega e de inúmeros aspectos da condição humana. Direito, Literatura e Justiça são valores essenciais da realidade palpitante da vida como mostram, no cotidiano forense, as inúmeras questões criminais, cíveis, de família e outras de variados interesses. Castro Neves reúne material sensível para tecer, com os teares da palavra e da pesquisa, um tapete onde aparecem “O tempo dos dramaturgos gregos”; “A pólis e o Direito na Grécia clássica.” “A morte dos deuses e o julgamento de Sócrates” (470-399 a.C.), com a advertência de que a sentença contra o filósofo é sempiterna pela injusta condenação. A sua presença no tribunal e a autodefesa teriam revelado farpas de ironia e arrogância quando, por exemplo, desdenhou da ignorância humana: “Tudo o que sei é que nada sei”.
No capítulo “A invenção do Direito”, o autor se refere a Aristófanes (447 – 385 a.C.), que sabia da importância do teatro como forma de aclarar a consciência dos cidadãos e desenvolver reflexões políticas. Um poderoso meio para fortalecer a sociedade. Pelos temas debatidos nos festivais de teatro e expostos pelos talentosos autores gregos, a sociedade amadurecia. O dramaturgo, como esclarece em As rãs, ensina cidadania. As peças tinham propósito educativo.
A vida, a morte e a ressurreição da cultura grega no anfiteatro do mundo ocidental lembram-me um expressivo trecho de Nietzsche, em A origem da tragédia, ao afirmar que “o grego conheceu e sentiu as angústias e os horrores da existência: para lhe ser possível viver teve de gerar em sonho o mundo brilhante dos deuses olímpicos”.
“A vida é como uma peça teatral,
só que no teatro os diálogos são melhores”.
Jean Anouih (1910-1987), dramaturgo francês, autor de peças notáveis convertidas em filmes.
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