As ocupações humanas são alimentadas pelo sentimento da esperança que, no dizer do Padre Vieira, “é a mais doce companheira da alma”.
A esperança do escritor é ver o seu texto lido e admirado; do médico é curar o paciente; do construtor é fazer a boa casa; do jornalista é o sucesso da matéria publicada e assim vai. Em qualquer profissão, a esperança é o fim e o cabo de um trabalho. Mas existe um ofício no qual a esperança é o trabalho em si mesmo: é o ofício do estagiário. No campo das atividades ligadas ao Direito e à Justiça o estágio é o exemplo de que as horas e os dias, o tempo, enfim, dedicado pelo estudante se confundem com as funções que possam ser exercidas no futuro. Professor de Direito? Jurista? Juiz? Advogado? Membro do Ministério Público? Delegado de Polícia? Em qual delas estará ele afeiçoado ou realizado pessoalmente? Afinal, o que é “vencer na vida?”.
Para o bom profissional da carreira jurídica, vencer na vida é obter a tranquilidade de espírito, a respeitabilidade intelectual, o reconhecimento da competência e o conforto material para uma vida digna. O estagiário não deve ter pressa. Nem com a escolha da especialidade e a segurança financeira. Só é possível saber como atravessar o rio quando chegar à sua margem. Mas nem por isso ele deve permanecer ocioso, negligente ou indiferente aos sinais e aos avisos que de vez em quando aparecem no seu caminho. Há um valioso pensamento religioso que vale agora como lição: “Faça a diligência que Deus o ajudará”.
Existem amplas opções para o futuro. Embora a incerteza ou a dúvida sobre ele sejam perturbadoras, o fundamental é viver a experiência do presente: carpe diem. Ele deve pesquisar com entusiasmo e estudar com afinco, além de acompanhar o andamento do processo para o qual pesquisou. E com a liberdade de não estar vinculado pessoalmente ao resultado da causa.
RENÉ ARIEL DOTTI.
“O estudo tem sido para mim o remédio soberano contra os desgostos da vida: nunca tive uma aflição que uma hora de leitura não tenha dissipado”.
MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat,
baron de La Brède e de (1689-1755).
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