O filósofo, ensaísta, jornalista e ativista político espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955) foi uma das maiores expressões intelectuais do Século 20. Durante a cruenta Guerra Civil Espanhola (1936-1945), ele se autoexilou na Argentina regressando ao seu país em 1948 onde ficou até a morte. Sua obra clássica é A revolução das massas, que descreve a existência do homem-massa criador de um Estado poderoso, autossuficiente e inexorável. Mas o triunfo é transformado em derrota, porque um Estado plebiscitário é tão ou mais despótico do que qualquer tirania. Para o imortal publicista, a liberdade, a dignidade, o patrimônio e outros bens materiais e espirituais do cidadão ficam na sombra do eclipse provocado pelo Leviatã nos regimes autoritários de governo. E arremata: “A esto lleva el intervencionismo del Estado: el pueblo se convierte en carne y pasta que alimenta el mero artefacto y máquina que es el Estado”.
A propósito, acabo de reler um artigo do lúcido e talentoso colunista J.R. Guzzo, publicado na Veja de 06.07.2016: “O delito de ser livre”. Destaco alguns trechos: “Vivemos um tempo no qual se pretende negar ao cidadão que não utiliza o transporte público o direito de escolher o tipo de carro que quer pagar, com o próprio dinheiro, para ir de um lugar a outro; tem de ser táxi, que é supervisionado pela prefeitura, e, portanto, é o único meio legal. É tido como grave delito social defender o livre acordo entre patrões e empregados a respeito de salários e outras questões; as partes, até quando querem exatamente a mesma coisa, não podem se entender ‘à margem da lei’. Um jornalista só poderá ser um jornalista se o Estado disser que ele é jornalista; sem isso, estará exercendo ilegalmente a profissão. É proibido vender um quilo de linguiça caseira sem licença do Serviço de Inspeção Federal (SIF).”
“No Evangelho de São João está escrito que a primeira providência que Jesus de Nazaré tomou ao iniciar sua vida pública foi a de fazer o povo acreditar em seu nome. Os milagres vieram depois.”
Max Geringher
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