No dia 2 deste mês perdi fisicamente o amigo, o mestre, o estímulo e a ajuda intelectual para superar os escaninhos da carreira de professor universitário, aconselhando-me com a palavra suave e uma inteligência brilhante; padrinho do meu casamento com a Rosarita… O que mais eu posso dizer para aliviar a tristeza ao lembrar a esbelta imagem e a lúcida interpretação de dispositivos jurídicos de clara linguagem ou de refinados aranhóis para admiração de muitas gerações de alunos? Nada. A não ser a verdade sobre a finitude do ser: “they don’t die; they go before”. O texto abaixo é extraído de meu artigo “Egas Dirceu Moniz de Aragão”, publicado na edição de 21 de agosto de 2001, do jornal Gazeta do Povo. Ele comemora a aprovação do projeto de lei da Câmara Municipal de Curitiba, instituindo a Universidade Federal do Paraná como “local símbolo da cidade”, coroando disputada campanha lançada em 1999 pelo mesmo diário.
“No começo daquela noite [15.08.2001], reuniu-se o Conselho Universitário, sob a presidência do reitor Carlos Antunes dos Santos, e a congregação da Faculdade de Direito para conceder, solenemente, o título de Professor Emérito ao Doutor Egas Dirceu Moniz de Aragão. O local não poderia ser mais adequado: o salão nobre da instituição de ensino, justamente o coração do local símbolo da cidade.
“Falando na condição de diretor da Faculdade, o professor Luiz Edson Fachin referiu-se às outras felizes coincidências: as comemorações alusivas à fundação dos cursos jurídicos no Brasil e os vinte anos da instalação do curso de pós-graduação em Direito.
“Egas Dirceu Moniz de Aragão foi e continua sendo um padrão de excelência para gerações que passaram pelas salas de aula e se distribuíram nas mais variadas profissões jurídicas. São advogados, juízes, membros do Ministério Público, policiais, serventuários da Justiça, enfim, uma legião de pessoas que, aprendendo com o notável mestre do processo civil, se converteram de alunos em admiradores; de estudantes em amigos.
“São muitas as virtudes que justificam a concessão da rara láurea universitária. Moniz de Aragão projetou seu nome na literatura jurídica nacional e estrangeira e elevou o prestígio da Faculdade de Direito e da Universidade Federal do Paraná em múltiplos eventos acadêmicos. A profundidade de suas pesquisas, o vigor das convicções, a clareza do raciocínio e a perseverante dedicação à ciência do Direito, são algumas das qualificações que marcaram a sua carreira docente a partir de 1958, em concurso de provas e títulos, e que o consagraram como catedrático, dois anos após. Além de mestre ele é um extraordinário advogado que merece o respeito e a consideração de colegas e juízes pela fidalguia do trato, ética da conduta e responsabilidade das petições. “De sua condição humana há registros muito significativos como a sua firme resistência à prisão ilegal de um estudante de Direito quando estava na direção da Faculdade. Na época estava suspensa a garantia do habeas corpus. Mas isso não impediu que o professor Egas demonstrasse o vigor de sua autoridade moral e cívica para comprovar junto aos ordenadores da prisão a ilegalidade e o abuso do ato. O estudante recuperou a liberdade. A partir daquele dia, o Centro Acadêmico Hugo Simas reconheceu a existência de mais um destacado benfeitor.
“Há também outra expressão de bondade em seu espírito de luz. Ele sempre estimulou os colegas mais jovens que pretendiam fazer carreira no magistério superior. Eu fui um deles e nunca esquecerei os gestos de apoio, os conselhos de advertência e os votos de esperança.
“Gestos, conselhos e votos que circularam em minha memória e no meu coração quando ouvia e aplaudia as palavras de homenagem ao Professor Emérito de nossa generosa e benfazeja Universidade”.