O espaço www.blogdodotti.com.br não é e nem poderia ser uma espécie de caixa forte imunizada contra ideias e opiniões dos leitores que me distinguem com seu valioso tempo. Recebi mensagem eletrônica do Advogado e Economista André Leonardo Meerholz sobre futebol, ou seja, “aquela caixinha de surpresas”, segundo a tradição oral de especialistas na área. Lembro-me de um dos mais festejados, o ex-presidente do Corinthians Vicente Matheus (1908-1997), ao advertir que a faca tem ”dois legumes” e profetizar: “Haja o que hajar, o Corinthians vai ser campeão”. O título do artigo do André não poderia ser mais sugestivo: “E o torcedor…onde fica?” Abaixo, o inspirado texto.
“O início da Copa América é marcado pela baixa presença de público nos estádios. A explicação imediata seria o elevado preço dos ingressos, inacessíveis para boa parte do público frequentador regular destes espaços. É forçoso, contudo, compreender que o preço é, em realidade, a consequência de uma causa mais complexa e que infelizmente espelha o futebol brasileiro. A raiz se encontra no desprezo recorrente com que é tratado o torcedor. Sobretudo por aqueles que conduzem o nosso futebol ou que deliberam sobre seu funcionamento. Exemplos recentes não faltam neste sentido.
A proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos estádios é uma delas. A pretexto de reduzir a violência se impede ao torcedor o legítimo direito de, em um momento de lazer, consumir produto absolutamente regular e apropriado para o ambiente de um estádio. Do mesmo modo, a progressão das torcidas únicas. O torcedor da equipe visitante é impedido de acompanhar seu time, na contramão da rivalidade tradicional sadia entre equipes de uma mesma cidade, que atinge seu ápice nos clássicos locais. Ou a risível proposta da ‘torcida humana’, em que se retira o espaço da torcida visitante e seu torcedor é proibido de frequentar o estádio com a camisa de seu clube. É sonegado o direito mais fundamental de qualquer torcedor: o direito de torcer livremente para a sua equipe no estádio de futebol.
E isso se agrava quando o acesso aos estádios se torna viável apenas a uma camada diminuta da população. Retira-se de muitos o simples direito de acompanharem seus times, seja pelo fato de não possuírem renda suficiente, seja porque os estádios se tornaram ambientes apáticos e sem emoção. Em tempos de ingressos com valores proibitivos e excludentes da maior da população e de arenas suntuosas com atmosferas teatrais, o verdadeiro torcedor parece ser um detalhe inconveniente do espetáculo.
É preciso reconhecer que há algo errado e que deve ser corrigido.
O futebol é parte importante da vida de grande parte dos brasileiros. Muitos se identificam como indivíduos também a partir dos clubes para que torcem. O desrespeito a essa premissa ofende a própria cultura do país e o peso que o futebol nela possui.
Este contexto merece reflexão. E, para tanto, mais do que respostas, são necessárias perguntas corretas, que nos levem a um caminho de reconciliação. A mais trivial e necessariamente a primeira antes de se deliberar sobre qualquer assunto relacionado ao futebol brasileiro talvez seja: e o torcedor… onde fica?”
André Leonardo Meerholz