Os museus são instituições dedicadas a pesquisar, receber, conservar e expor objetos que revelam interesse duradouro ou de múltiplos valores: artísticos, científicos, literários, esportivos e de diversas outras naturezas. Pode-se afirmar, sintetizando, que esses locais são monumentos de cultura e de civilização. Os países econômica e culturalmente desenvolvidos mantêm quadros de funcionários qualificados e recursos financeiros suficientes para fazer desses centros dedicados à memória verdadeiros pontos de atração turística. São muitos os exemplos, como os famosos Museu do Louvre, em Paris, ou do Museu Britânico, na capital inglesa.
Lamentavelmente, o nosso país não se pode orgulhar de seus museus, que mostram a indiferença, a negligência e a incompetência da gestão, salvo raras exceções. A tragédia do incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite de 2 de setembro de 2018, constitui um marco indelével para mostrar às administrações públicas do presente e do futuro a falta de responsabilidade na conservação de edifícios e acervos. A destruição quase total de um conjunto de bens de importância histórica e científica, reunido no tempo de dois séculos e de cerca de vinte milhões de itens catalogados foi a grande manchete nos noticiários internacionais. Mais grave que o incêndio é a tradição vergonhosa da impunidade quando é demonstrado que os nefastos danos poderiam – e deveriam – ter sido prevenidos com simples iniciativas e medidas de cautela. No caso do Museu Nacional, desde 2014 já estava cintilando a luz amarela da má conservação das paredes e da péssima qualidade das instalações elétricas.
Mas para atenuar a sensação de perda e desgaste surge uma informação alvissareira. Um levantamento feito pelo portal de notícias mantido pelo Grupo Globo, sob orientação da Central Globo de Jornalismo (o G1), demonstra que no primeiro semestre deste ano os museus têm excelente número de frequentadores. A pesquisa envolveu quarenta grandes museus em todas as regiões do Brasil, com um saldo excelente: trinta e sete cresceram; três bateram o recorde. O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand já registra em sete meses a maior visitação anual desde 2012, quando recebeu 556 (quinhentos e cinquenta e seis mil) interessados. Na opinião do curador do MASP, Fernando Oliva, “neste momento político bastante singular, em que não tem havido incentivo à arte, é uma afirmação de que o público está, sim, interessado na produção”. A coordenadora de análise da informação do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), Rafaela Lima, observa que, “na contramão da decadência do tema, nós vemos o aumento de interesse. A sociedade traz a valorização para o setor que não é dada pelo governo”.
Tenho a convicção de que a sociedade civil ganharia pontos notáveis se organizasse movimentos para que as produções de rádio e televisão em nosso país, em lugar da exploração da violência e da criminalidade e da saturação das novelas – que tanto excitam a catarse e o sensualismo – adotassem o seguinte mandamento de nossa Constituição: “a produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas” (artigo 221,I).Afinal, se o embrutecimento cultural seguir em frente, deveremos ressuscitar Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo do genial humorista Sérgio Porto (1923-1968), ao definir: “a televisão é uma máquina de fazer doido”.