Na última edição da Revista da Ordem, editada pela OAB Paraná no mês de agosto, tive a honra de ser entrevistado na reportagem sobre o Dia do Advogado. A pauta tratava sobre os desafios da profissão, sobre a importância do Exame de Ordem e também possibilitava expressar alguns conselhos àqueles que estão começando no ofício da advocacia. Reproduzo abaixo, minhas contribuições à matéria.
Exame de Ordem
“O título de bacharel não habilita uma pessoa a exercer advocacia, a ser procuradora de alguém”, diz o professor René Dotti, ao ressaltar que o curso de bacharelado é extremamente teórico. Ele destaca que, com o crescimento desenfreado de faculdades de direito no Brasil, o teste [Exame de Ordem] se torna ainda mais necessário. O país é hoje o que mais tem cursos de direito no mundo. “Nas últimas décadas, a criação de cursos tornou-se absolutamente excessiva, é uma verdadeira indústria. O Exame de Ordem é fundamental para eliminar essa usina de diploma”, diz o jurista.
Breve manual para o bom advogado
Independentemente da época, há qualidades que são imprescindíveis aos bons advogados e que são até mesmo uma marca da profissão. Experientes profissionais da advocacia paranaense apresentam algumas das características de um bom advogado e os passos para chegar a elas.
Boa oratória
O jurista René Ariel Dotti enfatiza a importância de um advogado se expressar bem oralmente. Poucos sabem, mas ele era tímido e gago no início da carreira, não conseguia nem mesmo pronunciar sem tropeçar o seu sobrenome – pelo qual anos depois ficaria conhecido. Foi com o teatro que conseguiu desenvolver sua capacidade de retórica. Ele fez teatro amador do segundo ao quinto ano da faculdade. Hoje, ele aconselha aos que não quiserem se aventurar nos palcos que busquem aprimorar a capacidade de se comunicar. “Os advogados precisam fazer cursos de oratória para exercer a atividade, para que tenham um mínimo de dicção e eloquência”, recomenda o experiente profissional. “Também é preciso aprender gestos, a controlar a movimentação”, acrescenta.
Sustentação oral
“É um erro elementar quando se lê aquilo que já apresentou no recurso. A primeira coisa que os magistrados fazem é não prestar atenção”, diz o jurista. Ele explica que se for necessário ler algo, deve ser um tópico muito pontual, como um artigo de lei não comumente citado ou um precedente relevante à argumentação.
Bom ouvinte
O professor Dotti também aconselha os profissionais a desenvolverem outras habilidades interpessoais. Para ele, a profissão é “não só a teoria, mas a prática de convivência”. Humildade, solidariedade e certa dose de psicologia social são citadas pelo mestre. “Toda pessoa tem um problema maior ou menor ao nos procurar. Ninguém vai ao advogado dizer ‘bom dia’”, pondera. “É preciso ser solidário com o problema que a pessoa apresenta, procurar entender. Para isso, é fundamental ouvir bastante”, conclui Dotti.
Regra de ouro
O professor René Dotti, relembra Ruy Barbosa: “Há estudar, e estudar. Há trabalhar, e trabalhar”. “Não é possível ser advogado sem estudar”, conclui Dotti.