Nas manhãs de domingo, na antiga Gazeta do Povo, a coluna do querido amigo Belmiro vencia todas as preferências de leitura, desde o drama dos bairros da cidade, com esgotos a céu aberto; das dúvidas da seleção de futebol para a Copa de 2006 e até dos indícios da terceira – e última – guerra mundial com os mais sofisticados petardos concebidos pela inteligência humana.
Um de seus artigos mais apreciados foi “O outro testamento do Papa”, publicado originalmente na Gazeta em 2005. A lembrança afetuosa da grande personalidade do século passado, incentivador da restauração da democracia e liberdades religiosas na Europa do Leste, especialmente em sua Polônia, deu nome ao Educandário que Belmiro fundou, apoiado por amigos de boa vontade como o ex-Governador Jayme Canet (1925-2016) e empresários João Elísio Ferraz de Campos, Darci Fantin e outros. Segue, com saudade, o generoso texto.
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“João Paulo II deixou um testamento escrito ao longo de seu pontificado. E deixou, também, outro legado límpido e cristalino que não foi divulgado pelas agências de notícias.
‘Deixo para milhões de pessoas, antes proibidas pelo poder de Estados totalitários de acreditar em um Deus e honrá-Lo publicamente, o direito de professar livre e abertamente suas crenças.
Deixo aos envolvidos em lutas fratricidas, ódios milenares e desavenças irreconciliáveis o exemplo de alguém que, no luto por sua morte, uniu os antagonistas, aproximou irmãos estremecidos, serenou os ânimos e adiou os conflitos.
Deixo às grandes potências mundiais, inebriadas pelo seu poder de destruição ilimitada, a lição de que aquele que tem de seu lado Deus e a força moral não necessita de divisões militares para ser ouvido e respeitado pelo mundo inteiro.
Deixo àqueles que perpetuam a iniquidade, desprezam a justiça e contribuem para manter seus irmãos na miséria e na ignorância, a minha condenação firme, o meu desagrado ostensivo.
Deixo aos arrogantes a demonstração de que pedir perdão por erros cometidos no passado pela Igreja é um ato de reconciliação com os que sofreram injustamente por sua causa e um convite para que cada qual examine suas próprias culpas.
Deixo àqueles a quem Deus concedeu o poder da reprodução da espécie humana, a lembrança de que a paternidade e a maternidade não são escolhas gratuitas e de que sua responsabilidade em relação àqueles que geraram não pode ser declinada livremente em função de conveniências pessoais e egoístas.
Deixo àqueles a quem Deus concedeu a iluminação da descoberta científica e do entendimento do obscuro, a advertência para que utilizem seus dons com responsabilidade e prudência, respeitando as fronteiras da dignidade da vida humana, lembrando-se de que são responsáveis perante seu próximo e o Senhor pelo uso que fizerem de seus talentos.
Deixo àqueles que sofrem e que se veem tentados a abreviar sua dor meu exemplo pessoal de que o sofrimento é parte da condição humana e que pode ser suportado até o último dia com o auxílio do Pai.
Deixo àqueles que ficam a certeza de que em minha vida contribuí para que ao morrer existisse um mundo melhor do que encontrei quando nasci.
Deixo aos que permanecem neste mundo a esperança de que lutem para que possam dizer o mesmo quando forem chamados pelo Pai e para que seus filhos vivam melhor do que eles próprios viveram’.
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“Que mais dizer do legado do Papa? Já me atrevi demais. Afinal, João Paulo II é alguém de quem não sou digno nem sequer de, curvando-me, desamarrar as sandálias, quando mais de interpretar os pensamentos.
A bênção, João de Deus.”
“Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto no final”.
Pablo Neruda (1904-1973). O maior poeta chileno, considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do Século 20.
[…] Fonte: Blog do Dotti […]